4.12.05

A retórica do neoliberalismo

O termo neoliberal é confuso e de origem recente. Quase desconhecido nos EUA, é bastante utilizado na Europa e muito no resto do Mundo, quase sempre como insulto. A coisa dá para tudo – desde propostas absurdas a corrupção alargada – e calha sempre bem a quem governa: a Santana e Sócrates cá, como a Cardoso e Lula no Brasil. Muitos podem até pensar que a confusão tem a ver com a evolução do uso do termo, como, em parte, acontece com a palavra liberal, que acabou por assumir no mundo anglo-saxónico um sentido corrente oposto ao da sua tradição histórica. Mas não é bem assim. Aqui, a confusão acompanha uma certa forma de difusão em que o termo “neoliberalismo” é utilizado para assimilar com liberalismo – umas vezes depreciativamente, outras com certa pretensão científica – políticas, ideias ou governos que, na realidade, não têm nada a ver com ele.

Daí que seja difícil encontrar um liberal que se qualifique a si mesmo como “neoliberal”. Pelo contrário, quem usa o termo são geralmente os detractores do liberalismo.###

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Tudo isto faz do (neo)liberalismo contemporâneo um termo de definição imprecisa. Para muitos, o que mais importa é o prefixo neo, que deve ser pronunciado com um esgar de asco. Mas será que este prefixo, que sugere uma ideologia mutável e pouco séria, se deve aplicar ao liberalismo que, no essencial, é uma forma de pensar que variou relativamente pouco ao longo da história?

O curioso é que os socialistas se fartaram de mudar de ideologia e de programas políticos, às vezes em menos de uma década, e mesmo assim são socialistas e nunca “neosocialistas”.

Não devemos estranhar a utilização de figuras de retórica no debate ideológico. O absurdo seria que não se utilizassem. Mas os liberais com Causa devem prestar mais atenção a esta metodologia de comunicação.